13 de novembro: Nascimento de Biágio Simonetti.
Nos seus quase 80 anos de vida, o nosso padre Biágio (como ficou carinhosamente conhecido em Fraiburgo), FEZ uma cidade, atuou socialmente em meio a operários – por meio da ação social católica dos Estados Unidos da América, em Detroit, nos anos 1950, que representava a mola-mestra do industrialismo e da exploração do capital no maior representante do capitalismo mundial -, em meio a populações ribeirinhas e indígenas na Amazônia brasileira, depois vindo a trabalhar em São Paulo, e, finalmente, no interior de Santa Catarina, em Fraiburgo, no ano de 1963.
Nos anos juvenis, o padre Biágio orientou sua vida para a carreira religiosa, e teve a felicidade de encontrar pelo caminho verdadeiras inspirações seculares e espirituais, tais como o Pe. Paolo Manna (1872-1952), mentor do Pontifício Instituto das Missões (PIME), ordem da qual Biágio Simonetti faria parte no futuro como missionário e, depois, pároco. Por certo, acredito, piamente, como historiador, que essa foi a frase de Paolo Manna que teria orientado Biágio Simonetti ao PIME: “Sinto-me todo e somente missionário”. Não foi à toa que Simonetti, de um momento da vida em diante, passou a referir-se como “Sacerdote para Sempre”.
De 1963 até o fim de sua vida, Biágio Simoneti fez muito por Fraiburgo: bairros, ginásios de esporte, projetos de educação, foi prefeito, sofreu as penalidades do direito canônico que incidiram sobre seu envolvimento com a vida civil e política, deu exemplos, DEIXOU UM LEGADO. Esse objetivo perpétuo da humanidade desde os sumérios, os egípcios, os chineses da dinastia Qin, os africanos do Zimbábue, os povos pré-colombianos e pré-cabralinos, essa plêiade de povos que construíram monumentos e documentos com o sentido de preservar informações, conhecimentos, deixar rastros, deixar para o futuro qualquer coisa de importância.
Se Biágio atuou, então, na construção da Fraiburgo contemporânea, atuou não só do ponto de vista religioso, como também civil. Articulou políticas e políticos, enfrentando as vicissitudes da vida política tal qual ela se apresenta em regimes democráticos, angariando, pelo caminho, amigos e inimigos. Isso representa, do ponto de vista da história de vida e do método biográfico, que Biágio Simonetti, independente de ser admirado por uns ou repudiado por outros, marcou época, corações e mentes, e que ninguém que viveu a Fraiburgo de sua época, conseguiria manter-se INDIFERENTE a tal personagem histórico.
E isso é o que torna Biágio Simonetti, uma “ausência presente” e instigante para a história fraiburguense, quer seja em nomes de ruas, de escolas, mas também no comportamento dos seus cidadãos, no traçado das ruas, na influência católica sobre os nomes dos bairros da cidade, na imensa atuação como pároco em prol da educação e da saúde no interior de Fraiburgo, na modernização urbana, na modernização da agricultura, inclusive, tendo atuado decisivamente na construção de um sistema de ensino secundário técnico voltado à nascente indústria da maçã entre finais dos anos 1960 e início dos anos 1970.
Desde 2007 tenho trabalhado com muito carinho e dedicação na biografia de Biágio Simonetti, e a cada dia tenho ficado boquiaberto com a trama de sua vida. Fraiburgo confunde-se com Biágio Simonetti, da mesma forma que podemos, a cada dia, utilizá-lo como exemplo de um problema que tem intrigado historiadores desde o início do século XX: qual é o papel do indivíduo na História? Certamente, o de Biágio, pelos contatos que tenho encontrado não apenas em Fraburgo, mas em São Paulo, Detroit, Amapá e Roma, é decisivo e fundamental, pelo menos para uma comunidade que nasceu e cresceu tendo experimentado inúmeros de seus planos, de suas realizações, e de suas visões de mundo.
Não há nada de mais rico para a História do que a história de vida de uma pessoa como Simonetti: polêmico, visionário, homem de idéias e homem de ação, do presente e do futuro, radical em muitos momentos, personalista em outros, com defeitos e qualidades, tal qual todo homem. Mas com um legado!
Prof. Jó Klanovicz, Ph.D.
Laboratório de História Ambiental, Universidade Federal de Santa Catarina
12 nov. 2009.
Um comentário:
Professor Jó, agradecemos sua rica contribuição.
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